Adaptado de https://theconversation.com/circus-training-instead-of-school-sports-now-theres-an-idea-31979
O ensino das artes circenses pode gerar impacto social na comunidade na qual se instala? Essa provocação foi debatida durante um encontro em Melbourne, sediado pelo Circus Oz
Orgulho da comunidade indígena de Multitjulu, em Uluru, o Ninja Circus, que já excursionou na Austrália e por outros países, é conhecido pelo trabalho realizado, tanto no resgate de jovens envolvidos com abuso de drogas, quanto na prevenção do uso dessas substâncias.
Além do sentido de propósito que a arte circense promove na vida do estudante, o treino de circo requer prática constante, repetições do mesmo truque e muito foco. De modo que seus frutos são facilmente observáveis em sala de aula, com o desenvolvimento da criatividade e atenção durante a aula regular.
Aumento da autoestima, respeito, e engajamento no trabalho em equipe, também são resultados atribuídos à aula de artes circenses, que cria um ambiente que equilibra diversão e alto grau de concentração nas aulas de malabarismo e acrobacias
A possibilidade de se apresentar para a comunidade de pais e amigos, bem como em eventos maiores, permite que o jovem desenvolva habilidades sociais que permitirão o trato com estranhos de maneira confiante e construtiva. Habilidade muito desejada no concorrido mercado de trabalho.
Os circos engajados em projetos sociais ao redor do mundo combinam uma abordagem intervencionista nos problemas sociais da comunidade através do compartilhamento do conhecimento das habilidades circenses. Mais do que um objetivo recreacional, o circo social se caracteriza pela transferência do conhecimento historicamente construído, com o objetivo de gerar impacto social.
Houve a emergência desse modelo pelo mundo nos anos 90, em um processo que prioriza o crescimento pessoal e social dos seus participantes. Conforme descrito, a prioridade é encorajar o desenvolvimento da autoestima, a aquisição de habilidades sociais, expressão artística e uma ocupação que seja integradora da comunidade.
O Cirque du Monde, braço social do Cirque du Soleil, desenvolve programas de circo sociais em comunidades carentes na América do Sul, África e América do Norte desde 95.
A ressignificação da arte circense permite que os benefícios de seu treinamento inclua pessoas que nunca se imaginaram além das arquibancadas, como é o caso das pessoas com deficiência. Em Queensland, o governo dá suporte a um projeto que usa as habilidades circenses para tratar crianças com deficiência.
Todo ano, milhares de pessoas se beneficiam dos programas de ensino de arte circense oferecidos por mais de 60 organizações espalhadas pela Austrália. Alguns deles são Sandfly Circus, que atua em comunidades indígenas e o Flying Fruit Flies, baseado em Albury-Wodonga.
Os pais exercem um papel importante na manutenção dos filhos nos cursos, pois acabam por se engajarem nas aulas para incentivar seus filhos. Eles explicam que o ambiente criado permite que aqueles que são socialmente discriminados possam ter a oportunidade de se sentirem parte da comunidade. Eles observam que o novo senso de pertencimento da criança cria uma onda de transformação no bem estar social e físico dos filhos.
Em 3 décadas, a Austrália prova ao mundo a eficácia da arte circense em promover mudanças pessoais e sociais. Avaliando tantos benefícios, não seria hora de olharmos para além do futebol, nos despirmos do preconceito e de hábitos enraizados, e investirmos em projetos que beneficiem as nossas crianças em escolas, projetos sociais, clubes e associações pelo país?
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